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Os discursos obscuros do ego



A voz, que fala pelo ego em sua mente, sabe com sucesso lhe provocar, tanto de dentro para fora, quanto de fora para dentro, isto é, seja aparentemente refletida em seus próprios pensamentos ou nas palavras e ações daqueles que te cercam. 

Por essa razão, abandonar suas contrariedades, resistências e exigências infantis, é tão importante, isso desarma o ego.

Quando os pensamentos lhe fazem recordar uma "situação desagradável", por exemplo, despertando uma carga emocional dolorosa, o ego produz sofrimento em ti, por meio dessa lembrança que ele te inspira. 

Da mesma forma, o ego está ciente, que existe alguém - ou alguns - dentro do teu círculo de relações, que você deposita seus investimentos e suas expectativas, esperando delas um retorno favorável, em razão dos seus "esforços e sacrifícios" em "ajudá-las". (Esses são os nossos relacionamentos especiais). 

Assim, quando este representante de seus relacionamentos especiais - lhe diz ou faz algo que lhe contraria - impulsionado justamente pelo ego, outra vez, o sofrimento psicológico te dobra diante da existência, lhe fazendo crer que você é uma vítima impotente dessa "injustiça". 

O ego é uma força presente no inconsciente coletivo, no filme Matrix ele é ilustrado pelo personagem conhecido por agente Smith, capaz de incorporar em qualquer indivíduo. 

Isso demonstra que há uma dor - ou uma crença na dor - presente, viva e atuante em nossa dimensão psicológica de ser e, com a qual nos confundimos, acreditando fazer parte de nossa essência, quando se trata, na realidade, de uma intrusão. 

Todas as vezes que caímos numa dor psicológica e emocional, estamos dando ouvidos a alguma forma de ressentimento inspirada pela voz do ego. Através de seus discursos ele procura nos provar que somos frágeis vítimas do destino e, que tudo aquilo que acontece externamente, tem o poder de ditar nossas emoções. 

Tais discursos, fabricados por narrativas convincentes, quando abraçados, nos coloca dentro de uma dinâmica caótica e dolorosa, sobre a qual nos sentimos diretamente atingidos, automaticamente nossas defesas se levantam e nos vemos diante de uma situação de vida a qual consideraremos muito difícil em lidar. 

O ego, com a sua voz, tenta frequentemente nos enfraquece diante da existência, transformando a vida num peso e, nossas metas num objetivo cujo sacrifício é o único caminho para alcançá-los. Os caminhos que aponta são sempre exaustivos e obscuros.

Nossas mentes não estão separadas, tal como a ilusão da separação nos induz a crer, logo o ego saberá agir, a partir do inconsciente, de modo oculto para passar desapercebido, nos infringindo dor, ao nos conduzir por caminhos de sacrifício e exaustão.

É preciso aprender a  identificar as vozes que falam pelo ego, seja em nós mesmos ou no próximo, quando não a identificamos, nos culpamos por aquilo que nossos pensamentos e sentimentos produzem e culpamos aos outros por aquilo que dizem ou fazem. 

Nada reforça mais o ego do que a culpa e o julgamento, intensificando ainda mais o sentimento de separação, rejeição e abandono. Inspirando sentimentos como o desejo por vingança ou automutilação emocional. 

A voz que fala pela Grande Vida, ao contrário do ego, nos convida sempre a reconhecer aquilo que é ilimitado, vasto e abundante, com o intuito de nos apresentar um caminho suave e gentil, onde a compaixão e a compreensão, além de trazer leveza, possibilita que possamos acolher a nós mesmos e ao nosso o próximo, sem reservas. 

A ausência de julgamentos é uma condição ideal para o aprendizado e a amplitude de nossa visão, numa postura de abertura permitimos que a Grande Vida, em seu tempo, nos revele tudo aquilo que precisamos saber e, assim, caminhamos atentos, com a clareza única e inequívoca de um pequeno próximo passo, que é tudo que precisamos por agora. Diferente do ego, que nos faz refletir o caminho e antecipar todas as suas possíveis dificuldades, nos desencorajando e inspirando o medo. 

Esteja atento para perceber toda inspiração obscura, todo pensamento ou palavra alheia que lhe inspira o medo, a insegurança ou a contrariedade, é produzida pela ação do ego.

Em um Curso em Milagres lemos: "Quanto mais perto chegas do fundamento do sistema de pensamento do ego, mais escuro e obscuro vem a ser o seu caminho." (LT-11-I-3:5)


*já incluso no livro

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