Pular para o conteúdo principal

Porque Julgamos?



O julgamento não cabe a nós, no entanto, todos os dias com a maior facilidade, nos tornamos juízes de situações e pessoas das quais costumamos condenar de maneira implacável.

Porque agimos dessa maneira?

Simples. Porque nós somos condicionados a agir dessa maneira, não julgamos porque escolhemos através do nosso livre arbítrio julgar, mas porque estamos programados como verdadeiros robôs, para agir, executar e “rodar” este aplicativo do julgamento, todas as vezes que este botão é acionado por meio dos nossos sentidos.

Lembro até hoje dos meus tempos de criança, e principalmente na escola quando eu estava no primário, nós crianças éramos arrastados pelo hábito de discriminar, através de sarro, brincadeiras, ofensas, toda e qualquer criança que tivesse algum pequena diferença física ou comportamental, fosse por sua roupa, por seu jeito de falar, era um hábito implacável.

E o medo gigantesco que eu tinha de ser a próxima vítima, a tática então era atacar primeiro para não ser atacada, e algumas vezes eu fui esta vítima, pelos motivos mais toscos imagináveis.

No entanto não culpados, havia responsáveis e eu hoje, observo que nenhum de nós, pequenos infantes, éramos os responsáveis (pelo fenômeno que hoje em dia é chamado de buling), mas a cultura a qual estávamos inseridos e a qual nos era transmitida por intermédio da criação de nossos pais e adultos a nossa volta é que eram os responsáveis pela proliferação desses comportamentos, a criança simplesmente reage conforme o seu meio, tal como um espelho, reproduz aquilo que sente, aquilo que vê e aquilo que ouve.

E vivemos numa sociedade hostil.

Como diz um verso do melancólico poeta Augusto dos Anjos: “O homem miserável que nesta terra vive entre feras, sente a inevitável necessidade de também ser fera”. Ou seja, cria-se um padrão de comportamento que eu denomino de ciclo do julgamento-defesa-julgamento-ataque, o medo nos deforma em nossas habilidades naturais de compreensão e compaixão, não nos aproximamos do outro realmente porque criamos uma desconfiança contínua de que o outro torna-se uma ameaça, vivemos constantemente armados e o peso dessas armas nos torna tensos, ansiosos, agressivos e uma fonte de opressão contra nós mesmos.

Nesta mesma poesia intitulada “Versos Íntimos” Augusto dos anjos continua: “o beijo amigo é a véspera do escarro e a mão que afaga é a mesma que apedreja”. Transmitindo desta forma um extremo pessimismo convertido na desconfiança generalizada, tornando nenhum homem digno de sua confiança.
O medo é a primeira motivação do julgamento.

A necessidade infantil de reduzir ao outro para que possamos nos sentir melhores e diferente é uma outra causa para o julgamento.

E o julgamento é sempre parcial, portanto impreciso, mesmo por parte daqueles cujo ofício é julgar (como juízes, advogados, magistrados, etc), isto se deve ao fato de cada ato humano ser resultado de uma soma de fatores, combinações e sincronismos tão fragmentados, ou seja, há sempre dezenas, centenas de fontes causativas por de trás de uma única ação, que é impossível para nós conhecer toda a razões, causas e circunstâncias que nos levaram ou levaram outros a cometer um determinado ato. (Não há dúvidas de que a maior parte do fenômeno psíquico humano é inconsciente e de que, portanto, raramente compreendemos a nós mesmos e todas as nossas motivações).

E de que forma o julgamento tem nos ajudado? Como ele tem contribuído para melhor o mundo e a vida em sociedade? Basta olharmos para o resultado de tudo aquilo que vivenciamos hoje, numa sociedade pré-histórica em termos de comportamento e avançadíssima em desenvolvimento tecnológico o que denuncia um desenvolvimento unilateral e, portanto, me parece anormal.

O julgamento apenas aumenta conflitos, alimenta a opressão, produz guerras, desentendimento e divide aos indivíduos.

A mente condicionada por esses muitos fatores, funciona como uma espada de dois gumes, que a todo tempo está ferindo tudo aquilo que vê através do julgamento e ferindo a si mesma.

Esses são os principais motivos pelos quais julgamos, é importante que a cada vez que escolhemos julgar ao invés de compreender, estamos abrindo mão da nossa própria paz de Espírito.

Comentários

  1. Quando jesus disse atire a primeira pedra quem não tem pecado, todos se retiraram deixando-o só com a mulher adúltera.Mas nos dias de hoje não acontece assim as pessoas julgam sem escrúpulos e nem fazem questão de examinar sua própria consciência.Por isso temos que aprender muito sobre a Paz de Espírito e tentar atingir a perfeição o que é difícil.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente para compartilhar amorosamente aquilo que aqui amorosamente foi compartilhado!

Grato!

Postagens mais visitadas deste blog

A Macro e a Micro-Violência

A violência nunca é um fenômeno individual e isolado, se quer posso crer  na existência de qualquer outro fenômeno que seja completamente individual, porque o individual é reflexo do macro, como o macro é um reflexo do micro, tudo se interpenetra para a criação de um todo, de um conjunto que se interage através de múltiplas vias. A violência é uma linguagem, uma forma de expressão infantil, primitiva, instintiva, reativa de causa complexa e multifacetada, mesmo após diversos estudos realizados nas mais variadas áreas do saber, como a biologia, a antropologia e a psicologia a comunidade científica não responde de forma satisfatória ao dissecar todas as nuances relacionadas ao fenômeno da violência, a não ser hipóteses diversas que ora se encaixam a determinada situação e ora não, mas nunca revelando completamente a chave da questão. Se onde está o problema está também a solução, conhecer as causas da violência torna-se uma questão de fundamental importância para o estabelecimento d

O Encontro Santo e a Reversão do Pensamento (UCEM)

É a partir do encontro santo que o processo de reversão do pensamento tem início realmente, por isso o curso em si é apenas um começo. Sua base teórica só é necessária para tornar o estudante disponível, aberto e vulnerável para este encontro e não para uma compreensão minuciosa e intelectual de como funciona todo o processo, caso contrário o estudante se sentiria paralisado pelo medo ao perceber ameaçada toda a extrutura do pensamento do ego ao sentir a presença do sagrado revelado através do instante santo. O instante santo se dá quando duas ou mais "pessoas" deixam de perceberem a si mesmas como entidades físicas separadas e através da percepção direta descobrem que na verdade são uma única presença, uma única consciência em uma só expressão da unicidade. Quando a ideia de um eu separado (que é somente uma crença profundamente arraigada na base de pensamento do ego), é suspensa através da vivência do instante santo, o medo e a culpa também são suspensos,

Quando Osho Me Ensinou a Dançar!

Quando eu o vi pela primeira vez, bailando com um vigor natural, semelhante a tornados que se formam antes das tempestades e gracioso tal como a flor ao desabrochar, eu logo me apaixonei pelo meu professor de dança, Osho. Eu me aproximei encantado, era uma experiência arrebatadora, me senti erguido aos reinos celestiais e me senti um privilegiado por poder apreciar tamanho acontecimento histórico e sem igual desde os primórdios de quando nós humanos começamos a dançar. Ao me aproximar o reverenciei com as palmas justapostas em oração e curvando-se lentamente, no qual ele me respondeu com um sorriso puro e franco tal como o sorriso de uma criança. Minhas primeiras palavras foram – Me ensine a dançar tal como você mestre! E tal foi a sua resposta: - Isto é impossível, e mesmo se fosse possível não seria algo belo, verdadeiro, espontâneo, te ensinar a dançar como eu mesmo, seria te oferecer uma espécie de cópia, que valor isto teria? – Percebendo em minha