Pular para o conteúdo principal

A Macro e a Micro-Violência




A violência nunca é um fenômeno individual e isolado, se quer posso crer  na existência de qualquer outro fenômeno que seja completamente individual, porque o individual é reflexo do macro, como o macro é um reflexo do micro, tudo se interpenetra para a criação de um todo, de um conjunto que se interage através de múltiplas vias.

A violência é uma linguagem, uma forma de expressão infantil, primitiva, instintiva, reativa de causa complexa e multifacetada, mesmo após diversos estudos realizados nas mais variadas áreas do saber, como a biologia, a antropologia e a psicologia a comunidade científica não responde de forma satisfatória ao dissecar todas as nuances relacionadas ao fenômeno da violência, a não ser hipóteses diversas que ora se encaixam a determinada situação e ora não, mas nunca revelando completamente a chave da questão.

Se onde está o problema está também a solução, conhecer as causas da violência torna-se uma questão de fundamental importância para o estabelecimento da paz, pois uma vez conhecida e neutralizada o conjunto de condições que propicia o ato de violência, logo este poder ser evitado e, assim não se estabelecerá.

Para ilustrarmos: Vivenciamos hoje na sociedade brasileira, como em muitos outros lugares do mundo, um índice de violência contra as mulheres, que é alarmante. Criar leis que protejam a segurança das mulheres como a lei Marinha da Penha em nosso país tupiniquim e punir os homens que realizam tal ato de violência são apenas meios de lidar com os efeitos imediatos decorrentes desses atos e não um meio de trabalhar suas causas.

Como diz a sabedoria chinesa através do sábio Lao Zi (Lao Tse): "Quanto mais leis e ordens baixarem, mais infratores haverão". Não há dúvidas quanto a isto, quando uma lei que visa a proteção de uma classe de pessoas é promulgada para a sua segurança, isto significa que a quantidade de crimes recorrentes naquela direção tornou-se insustentável, e a partir daquele instante pensa-se em criar punições e castigos como tentativas de frear tais atos de violência.

Mas o que não se questiona de maneira mais ampla é: Como pode um fato tornar-se tão frequente, como a violência contra a mulher e não observamos que há uma crise de ordem social, histórica, mental, ou o que quer que seja, mas que é de ordem coletiva (macro), por de trás das ações de diversos indivíduos (micro), que desencadeiam esta ação?

Pois até onde eu saiba, esses indivíduos não formaram uma ONG e se reuniram através de um comitê nacional e decidiram através do voto majoritário que agrediriam ou matariam suas ex-esposas, ou esposas, ou namoradas ou ex-namoradas. (Entre as mais de 1 milhão de mulheres que relataram, em 2009, ter sido agredidas, 25,9% foram vítimas de companheiros ou ex-companheiros, segundo o IBGE).

No entanto, não tenho dúvidas de que há por de trás deste ato de violência contra a mulher uma causa comum, que desencadeia uma ação de ordem coletiva, como se existisse algo interligado numa grande cadeia, culminando nesta barbárie.

Não entrarei aqui no mérito da questão, levantando hipóteses ou analisando situações para tentar entender ou explicar quais poderiam ser as causas, históricas, psicológicas, sociais, para tal ocorrência hoje tão frequente, mas uma conclusão lógica e que incomodaria a muitos indivíduos é o fato de que nós somos os responsáveis diretos ou indiretos por todo ato de violência presente na sociedade, na medida em que nos isolamos em nossas "carapuças", e não nos incomodamos com um fato, até que ele nos atinja.


Todo ato de estupidez, de rejeição, julgamento, preconceito, desprezo, indiferença, desrespeito que venhamos a cometer por qualquer um de nossos semelhantes (seja ele ou ela, adulto ou criança, jovem ou idoso, negro ou branco, estrangeiro ou concidadão, homoafetivo ou heteroafetivo), ocorre devido a nossa visão diminuta, que não permite enxergar que diferenças superficiais, não nos diferenciam em essência humana, e que todo ato como estes, são pequenos atos de violência que irão gerar reações (causa e efeito), desejo de vingança, desequilíbrio de ordem emocional, mental e  psicológica, e que por sua vez inspirará grandes atos de violência (um gesto de um só indivíduo influencia todo o seu meio, na mesma proporção em que o meio influência todos os indivíduos).

É por este motivo que o nacionalismo, a religião, o sexismo, o partidarismo, a centralização do poder na mão de uma classe em detrimento a outra, todos estes fenômenos fomentam preconceitos, diferenças, separações, guerras, ódios, disputas que faz com que os seus membros, partidários e defensores deixem de reconhecer a essência humana comum por de trás de todos os indivíduos, assim como suas necessidades em comum.

E ao invés de por meio da colaboração mútua buscarmos alcançar nossas metas, damos inicio a uma concorrência por meio de uma disputa insana, onde uns desejando ser melhor e possuir mais do que outros, nos faz esquecer completamente  de que nós somos a extensão de um todo, de que em essência ninguém existe em separado,  e devido ao medo de que algo possa nos faltar, nos preocupamos só em nós mesmos e em nossos pequenos núcleos familiares e buscamos acumular o máximo de reservas com o receio de que amanhã algo nos faltará devido a escassez que acreditamos existir na natureza, no mercado, no universo.

Por essas e outras razões, vejo que o medo é um dos pontos determinantes, na causa e origem da violência (somente os covardes são violentos), quantos animais não são dizimados na natureza pelo simples motivo de que um outro animal se sentiu ameaçado devido a presença de um "estranho em seu território" e este mesmo fenômeno que acontece na selva ao meio da natureza, ocorre também no universo humano, a desconfiança mútua, as diferenças acentuadas por ideologias diversas, a ganância e o desejo de poder para manipular e controlar outras vidas humanas, todos esses fatos geram conflitos, acentuam o medo, faz com que sintamos a necessidade de nos armar em defesas a essas constantes ameaças, e é óbvio que em uma sociedade onde os indivíduos estejam sempre armados o conflito e a violência seja uma constância.

E o que podemos nós em nossas vidas diárias, dentro do nosso ciclo de relacionamentos, fazermos para proporcionar paz aos nossos semelhantes, ao mundo e a nós mesmos?

Refletiremos sobre esta questão em uma outra postagem!

Paz e Luz!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Encontro Santo e a Reversão do Pensamento (UCEM)

É a partir do encontro santo que o processo de reversão do pensamento tem início realmente, por isso o curso em si é apenas um começo. Sua base teórica só é necessária para tornar o estudante disponível, aberto e vulnerável para este encontro e não para uma compreensão minuciosa e intelectual de como funciona todo o processo, caso contrário o estudante se sentiria paralisado pelo medo ao perceber ameaçada toda a extrutura do pensamento do ego ao sentir a presença do sagrado revelado através do instante santo. O instante santo se dá quando duas ou mais "pessoas" deixam de perceberem a si mesmas como entidades físicas separadas e através da percepção direta descobrem que na verdade são uma única presença, uma única consciência em uma só expressão da unicidade. Quando a ideia de um eu separado (que é somente uma crença profundamente arraigada na base de pensamento do ego), é suspensa através da vivência do instante santo, o medo e a culpa também são suspensos,

Quando Osho Me Ensinou a Dançar!

Quando eu o vi pela primeira vez, bailando com um vigor natural, semelhante a tornados que se formam antes das tempestades e gracioso tal como a flor ao desabrochar, eu logo me apaixonei pelo meu professor de dança, Osho. Eu me aproximei encantado, era uma experiência arrebatadora, me senti erguido aos reinos celestiais e me senti um privilegiado por poder apreciar tamanho acontecimento histórico e sem igual desde os primórdios de quando nós humanos começamos a dançar. Ao me aproximar o reverenciei com as palmas justapostas em oração e curvando-se lentamente, no qual ele me respondeu com um sorriso puro e franco tal como o sorriso de uma criança. Minhas primeiras palavras foram – Me ensine a dançar tal como você mestre! E tal foi a sua resposta: - Isto é impossível, e mesmo se fosse possível não seria algo belo, verdadeiro, espontâneo, te ensinar a dançar como eu mesmo, seria te oferecer uma espécie de cópia, que valor isto teria? – Percebendo em minha